Nunca falei de política por aqui. Não porque eu não ache que valha a pena, mas porque não me sinto qualificada pra escrever no blog sobre o assunto. O dia de ontem, no entanto, me fez vir até aqui e relatar duas cenas que assisti no meu prédio.
Voto no Mackenzie. Decidi sair de casa sem usar roupas vermelhas ou qualquer outro acessório que demonstrasse que eu não sou PSDB. Foi medo mesmo, porque na vez que fiz isso um brutamontes mal educado veio me perguntar cinicamente qual era o número do Alckmin, ficou me provocando e só parou quando viu meu super irmão de mais de 1m90 vindo na minha direção.
Saindo do prédio, vi uma senhora loira vizinha minha fechando o portão e perguntando ao Manoel, o porteiro da manhã:
– Você não vai votar na Dilma, né? Se você votar na Dilma, você vai ser despedido!
Esperei ela passar, dei uma risada pro Manoel e apontei com a cabeça pra senhora que descia as escadas.
Depois de votar – devo admitir que fiquei surpresa com a quantidade de camisetas vermelhas no Mackenzie – estava subindo as escadas e vejo um senhor do prédio perguntando pro Manoel:
– E aí? Vai votar no Tiririca?
Esperei ele passar e conversei com o Manoel, que me disse que eu era a primeira pessoa do condomínio que não tinha votado no Serra, mas que no bairro dele, todo mundo era petista.
Subi pensando nas frases da senhora e do senhor pro Manoel. Uma frase não é apenas uma frase. Ela é uma declaração, um ato. Nesse caso, uma declaração, por parte dos meus vizinhos, de poder, de superioridade, de desdém, de conservadorismo. Vejam se concordam…
A senhora disse que se o Manoel votasse na Dilma, seria demitido. É claro que ela não pode demití-lo – e se ela o fizer, eu vou furar todos os pneus do carro dela, dar uma festa em cima do apartamento dela e jogar ovo naqueles belos cabelos bem tratados de madame. A questão é: o que ela queria dizer com aquilo? Para mim soou como: eu sou a dominadora aqui. Eu pago seu salário e eu avalio seu serviço. A sua submissão não se resume a ficar na minha portaria, ser extremamente gentil, me entregar encomendas e carregar minhas compras do supermercado. Você tem que se espelhar nas minhas opiniões políticas. Se eu decido pelo seu salário, se eu pago a comida da sua família, então eu é que decido pelo seu voto. Vocês acham que eu estou exagerando?
O comentário do senhor vizinho sobre o Tiririca parece dizer que não é exagero. O que é olhar pro seu porteiro, mais humilde que você, negro, que mora longe do centro de São Paulo, que pega ônibus todo dia e usa uniforme pra te servir e perguntar se ele votou no Tiririca? Detalhe, a pergunta tinha ares de pergunta retórica. Como se o senhor dissesse “Eu sei que você votou no Tiririca”. Sabe, porque sabe também que o Manoel não é como ele, estudado, esclarecido, culto. Então, é lógico…só pode ter votado no Tiririca!
Nós, os moradores desse prédio, que temos dentes e pele branca, que saímos de carro enquanto vocês abrem a garagem, que visitamos a Europa e fizemos boas faculdades, que não temos sotaque nordestino nem moramos na Periferia, nós sabemos em quem vocês devem votar e nós damos risada de quem vocês votam, porque vocês, diferente de nós, não escolhem seus candidatos conscientemente. Vocês escolhem o cantor ignorante que decidiu ser candidato.
O PT tem apoios que eu não imagianava que teria antes do Lula ter sido eleito pela primeira vez. O Obama chamou o Lula de “o cara”, os franceses sempre me perguntavam do Lula, diziam fascinados que era o máximo ele ter sido eleito, que eles ouviam falar muito bem dos seus governos. A carta capital adora falar do governo Lula e de seus méritos. Mas os moradores do Queen Mary, frequentadores do clube inglês e do shopping higienópolis acham o Lula um analfabeto e a Dilma uma terrorista e além de tudo uma vaca, uma puta.
Não, o meu porteiro não votou no Serra e não, ele também não votou no Tiririca. Ao contrário do que pensam meus vizinhos, o Manoel e muitos outros porteiros, empregadas domésticas e garçons que eu encontrei e conversei sobre essas eleições votam na Dilma e não gostam do Tiririca. Eles não gostam do Alkmin e do Kassab – aliás, não é preciso muito pra isso. Basta pegar ônibus nessa cidade para nutrir o ódio pelos dois. Eles não acham que política é votar em cantor famoso.Eles têm filhos e sobrinhos que conseguiram entrar na universidade pública por causa do pró-uni, eles tiveram mais poder de consumo com os dois governos do lula. Agora suas famílias compraram carro, celular, viajaram, melhoraram o padrão de vida (e eu quero que vá pros infernos aquele que criticar isso, porque nós todos desses prédios com porteiros e zeladores adoramos nosso ar condicionado do carro, nossas férias na praia, nossa pasta de dente de todo dia e nosso jantarzinho no final de semana!)
É duro aceitar essa contradição. Que não gostamos do capitalismo, do consumismo exagerado da nossa sociedade, mas adoramos uma roupa nova e um jantar no restaurante charmoso da Vila Madalena. Mais duro ainda, para alguns de nós, é sentar na sala de aula da Universidade do lado do sobrinho do porteiro ou do filho da empregada. Ninguém pode rebater muito bem a multidão que ascendeu socialmente com os programas do Lula como o Bolsa família. Ser contra a melhoria de vida dos pobres fica feio, até o Serra entendeu isso e veio dizendo nessa campanha que ele é de família humilde e que foi diretor da Une. Por isso, os vizinhos brancos e (às vezes) bem vestidos (uma vez que dinheiro não é cultura e que as minhas coleguinhas do colégio de Higienópolis adoravam Tiririca quando eu estava na terceira série) batem no Lula. É inadmissível termos tido um presidente pobre, que não completou os estudos.
Sim, o argumento dos estudos pega. Mas procurem os alunos do pró-uni, as pessoas que entraram na universidade graçàs às cotas raciais, procurem as pesquisas que mostram o desempenho desses alunos. Muitos dos meus amigos da Filosofia estudaram em escola pública e são dos melhores pesquisadores daquele departamento. Muitas das pessoas que estudaram em colégios particulares e foram no shopping com a família no final de semana escrevem “quizer”, “conheçer”, ouvem Lady Gaga e adoram seriado americano, compram trabalhos e estão se ferrando pras aulas da faculdade.
Não, nós que moramos por aqui e usamos roupas caras não somos os mais inteligentes nem os mais esclarecidos. E se defender as camadas mais baixas ficou na moda, ao menos temos que dar ouvidos aos porteiros e faxineiras. Eles sim, não têm convênio de saúde, não têm carro e podem dizer como andam os serviços públicos.
Nós vamos de carro pros lugares, exibimos nossos rostinhos bem cuidados – escondemos nossa burrice por trás da nossa expressão corporal e das nossas roupas. Não vamos pra escola pública nem pro Sus. E dói, dói tanto na gente, correr o risco de um dia desses encontrar em um dos nossos ambientes essas pessoas que deveriam estar limpando nosso chão e servindo as nossas mesas.
Higienópolis tem muitos colégios e faculdades. Nos dias de semana vemos belas jovens passando. Algumas delas são estudantes da Faap e do Mackenzie. Outras são jovens que trabalham na casa dos pais dessas estudantes. Como é possível diferenciá-las? Mesmo as moças que trabalham em casas de família e são brancas e loiras, guardam nas roupas, nos gestos e nas sacolas de supermercado que carregam o seu lugar: elas estão ali para servir.
Ontem usei blusa lilás. Uma declaração discreta de apoio à Dilma, não porque eu ache que o PT é uma maravilha, mas porque sim, eu acho o PT muito melhor do que o PSDB e porque eu acho emocionante uma mulher poder chegar à presidência. Mas aí, a “terrorista e puta”, também não pode. Não adianta seus dentes serem cuidados como os das meninas de Higienópolis. Tanto a Dilma, quanto essas meninas e nós todas, moradoras dos prédios com porteiros e zeladores. Nós não podemos governar um país. Assim como porteiros não podem ter liberdade para escolherem seus candidatos. Isso tira todos e todas – trabalhadores e mulheres – do seu papel tradicional: o de servir.
Aí está o conservadorismo maior dos eleitores do Serra: conservar esses papéis de servidão, manter a sociedade funcionando, os carros luxuosos que chegam nos restaurantes e os serviçais, incapazes de votar e sempre dispostos a sorrir e estacionar um carro que eles nunca vão ter.
Eu moro num belo prédio, estudo na USP, adoro viajar e sou louca por comida japonesa. Todo mundo sabe disse. Mas eu sou pelos que não podem isso. E espero que um dia essa bela senhora de cabelos loiros e casaco caro possa encontrar sua manicure almoçando no mesmo restaurante que sua família. Não, eu não vou mandar ninguém pro paredão no meu mundo ideal. A gente aprendeu que é feio falar mal de pobre, mas é feio falar de sangue também, não é? Que ela sinta essa dorzinha no orgulho. Dor é essencial na formação. Os vizinhos esclarecidos deveriam saber disso.
Ná, voce devia colocar este texto no quadro de aviso do predio!
acho que ia ser muito legal, ele é muito bom pra refletir!
Ná, adorei o texto! Não vou nem ficar comentando pedaços porque acho que ele foi no ponto! Beijo.
[…] PS 3: Hoje li um texto muito bom sobre a eleição no blog da Natália Leon: https://minhapernadepau.wordpress.com/2010/10/04/nos-os-moradores-desse-predio/ […]
parabéns pelo post!
Muito legal o texto, flor. Seguinte: temos que fazer um “por que não votar em serra” p panfletar em e-mail; tenho um esboço (na verdade era um comentário longo a um post) que coloquei na minha pg inicial; se interessar debater, desenvolvê-lo, será bem-vinda.
Ressaca eleitoral (eu votei no Plínio) = medo da onda fascista.
mesmo uma amiga apolitizada deve assumir… excelente!
Fantástico o texto!!! Acho que vou até postá-lo no meu facebook, pode? =)
Claro que pode! Os posts daqui são copy left! Obrigada pelo elogio!
Ah, vi seu blog, mas não achei seu facebook, qual é?
é, o problema não é votar no serra, o problema é ter essa pobrefobia medonha e essa coisa de querer deixar cada um no seu lugar, fodido em lugar de fodido etc. a mulher q falou que o cara ia ser demitido pode ser processada, pode não?
eu sou escrotizada (por ser petista) por gente mais pobre que eu q vota no serra por motivos parecidos, estudo, sexismo, origens e a pqp e aí é mais bizarro ainda.
é o q deu disse esses dias no tuiter, tem mais diferença entre tucano bem educado e tucano mal educado que entre tucano e petista
Lindo o texto, parabéns
Eu defendo que você vote em quem quiser, não é uma virtude mas sim uma obrigação minha. Só não concordo que você pegue duas pessoas arrogantes e nivele todos os eleitores do Serra por eles.
Não vou entrar nos pontos que discordo de você a respeito da política do Lula pois estaríamos entrando em outro mérito e, conhecendo a premissa da qual você parte, discutiríamos por toda a eternidade.
Moro em um prédio que o Seu Zé, porteiro gente finíssima, escolheu a Dilma pra representá-lo. Ao contrário de mim, mas eu não tenho nada com isso. Posso até, em uma conversa informal, tentar mudar seu raciocínio, mas sem arrogância nem prepotência. Cada um responde por seus atos, cada um escolhe de acordo com sua ética, cada um usa a roupa que quiser pra ir nas eleições.
Não é porque a sua ou a minha síndica é uma fascista enrustida (e ela realmente é) que gosta do PSDB que o próprio partido e todos seus eleitores sintam nojinho do “pobre que vai ao shopping”.
Eu não acho que todos os eleitores do PSDB pensem assim ou sejam todos iguais. Eu escrevi esse post porque ouvi muito nas últimas semanas eleitores do Serra dizendo “analfabeto não pode votar, quem não é escolarizado não pode votar”. Acho que essa falácia das pessoas esclarecidas – que só quem estuda em boas faculdades e têm acesso a todos os museus e cinemas pode decidir de fato em qual candidato votar – tem que ser destruída. Procura no site da revista Novos Estudos os últimos artigos do André Singer. Ele mostra quem foram os eleitores do Lula em 2006. De fato, grande parte de quem votou no PT era de camadas muito baixas da sociedade que tiveram uma mudança significativa de vida com os programas du Lula – e eu acho mais do que legítimo o voto dessas pessoas, que passaram a ter coisas como iogurte, passe de ônibus, shampoo. Coisas que eu, por exemplo, sempre tive.
Agora, eu não acho que quem é de esquerda é super legal e quem é de direita é do mal. Isso é quase tão ingênuo quanto a campanha da Marina, que combina meio ambiente com desenvolvimento e promete governar com os melhores quadros do PT e do PSDB. Mas eu acho sim que existe uma onda classista, elitista contra o PT, que xinga o Lula de analfabeto, a Dilma de terrorista e não discute os programas do partido. Programas, aliás, que ferem tanto quem não gosta do PT quanto a ideia de que tivemos um presidente nordestino e ex-operário, porque incluem pessoas de classes mais baixas em ambientes das classes mais altas.
Agora, se você quiser discutir as diferenças de projeto de país que cada partido tem, eu adoraria ter essa conversa com algum eleitor do Serra. Até agora o debate parou no “A Dilma é terrorista, puta, eu não gosto dela!”.
Temos então, apesar de visões diferentes do mesmo mundo, um problema igual.
Quando converso com um petista, a argumentação é nivelada ao “psdbesta”, “fascista”, “ditabranda”, “demos” e outros carinhos. Não que eu não ache o Alckmin sem graça como pessoa, mas admiro como um estadista, bem como o Serra que, apesar de se parecer com as várias coisas que o atribuem, possui seriedade inegável no que faz. Isso é minha opinião baseada nos fatos que vejo e que minha cabeça é capaz de assimilar.
No que a falácia das pessoas esclarecidas tem em comum com a falácia dos menos esclarecidos é a própria falácia. Não é todo texto que fala mal do PT e do Lula que eu vou assinar embaixo. Falácias podem partir do cético e do crente.
A realidade que eu vejo é que o pobre quando emerge para uma classe média, leva com ele os preconceitos do lugar de onde veio, talvez por uma vergonha besta ou por medo de passar pelas mesmas dificuldades outra vez. Costumo dizer que a pior espécie de pessoa vem da classe média pois é aquela com a mente ainda miserável de bom senso que consome, se endivida e posa com a arrogância de uma classe alta.
É isso que o país tá virando. A nova classe média é uma ilusão, é pseudointelectual, medíocre em cultura e rica em preconceitos. A nova classe média não se preocupa com o país. A exemplo da classe alta e da classe de baixa renda. Todos estão preocupados somente com seus respectivos umbigos. Petistas, Verdes, Sociais-Democratas etc.
O que eu não concordo é com o discurso populista. Chamar pobre de coitadinho e declarar guerra a elite. Isso divide o país. A tendência é sempre separar pobre do rico, branco do negro, hetero do homo e o homem da mulher. Note que nestes dias estamos observando a politização do discurso do aborto (que sou contra) de modo a dividir o país entre PT e PSDB.
Adoraria também, se possível, discutir ideias com uma eleitora sóbria da Dilma. Pelo menos é o que pareceu ser você.
Queria deixar meu parabéns pelo texto.
Graças a Deus também tenho um padrão de vida um pouco mais elevado do que a da maioria da população e também passei por situações parecidas que me deixaram indignado.
No começo da campanha cheguei a esconder da minha familia (não pai e mae, mas avós e tios) minhas ideias de esquerda, meu apoio ao governo lula e meu voto na Dilma.
Mas de tanto ouvir besteira, preconceito social, acabei não aguentando.
Sai do armário petista e dei meu grito de liberdade kkk falei que privatização era crime e nunca ouve tamanha redução da desigualdade social no país e que votava Dilma.
O espanto que causei foi uma coisa extremamente ofensiva. As expressões e os comentários foram absurdas. Minha tia dondoca disse que tinha nojo e meu avô soltou essa exata frase: “fico muito triste que um menino que tem estudo como você pense desse jeito!” Quase falei que deve ser pq eu tenho estudo e ele não. Mas meu respeito falou mais alto.
A discussão que tive com meus amigos de infancia então foi absurda. Um pouco antes do pau pegar um deles tinha me dito que não daria pra fazer um churrasco na casa dele pq a mãe dele tinha dado folga pra umas das empregadas. Logo depois começou uma discussão politica muito profunda entre estudantes ricos de faculdades particulares. Não aguentei ficar quieto e falei um monte. O que sofri ali foi literalmente PRECONCEITO. Os argumentos do cara são ridiculos mas refletem o de toda a classe rica no pais. Argumentos do tipo que vagabundo recebe bolsa familia e nao quer mais trabalhar e coisas que nem merecem maiores comentários.
Hoje o que existe no país é preconceito político. E constato que esse tipo de pensamento conservador influenciou até mesmo as classes mais pobres.
Uma lástima. Parabens novamente pelo texto.
Também parabéns pela sua atitude e esclarecimento Luis!
Uau….
parabéns pela capacidade de reflexão e de expressão. Chapeau moça!!!
Direto ao ponto! Não vamos pintar os governos do PT de ouro e fantasiar uma igualdade social utópica, mas sim ter consciência de que o conservadorismo do PSDB é o pior caminho a ser tomado.
Recebi esse texto por e-mail e adorei, parabéns!
Lindo seu texto. Parabéns!
Um texto digno de publicação, parabéns! A sociedade precisa de tapas na cara, como esse texto para pensar mais, afinal, os “pansadores”, a elite do país , pensa e vota simplismente olhando para o seu próprio umbigo, para que nada mude, para que tudo continue exatamente igual, exatamente bom pra eles (menoria) e ruim para a grande massa, que os sustenta, e mesmo assim ainda olham a europa e elogiam o primeiro mundo, onde não temos quase miséria, e falam que querem isso pro seu país. Votando no PSDB, isso NUNCA ACONTECERÁ.
Moro perto, quer tomar um café um dia desses?
Ná, eu deveria apenas te dar meu apio em muitas das suas reflexões, mas creio que seja mais importante levantar alguns pontos inconsistentes de alguns comentários que você recebeu neste post: o que são fatos? O que é cultura “verdadeira”, uma vez que “isso” (esta “coisa inerente”, aos velhos pobres) não é? Existem preconceitos próprios de uma determinada classe social que não sejam compartilhados em outros meios? Mas será mesmo que “cada um escolhe de acordo com sua ética”? Hahahha… sabe, uma vantagem de ter etudado numa escola pública de cidade “de grande risco social” (chique, né?) é que eu perdi muito cedo a sensibilidade pelos coisas (sim, pois até aqui o dito “discurso” não passou de uma superficialidade inominável, que me faz empregar o termo “coisa”) ingênuas e mais ainda o medo de admitir que existia algum conflito, seja lá qual fosse, viesse de não sei onde, ligado à uma realidade que, temo, até hoje não compreendo…
Obrigadíssima pelo post.
Um dos comentários me intrigou. Acusa a esquerda de dividir o país enquanto paga salários de miséria, gerando, claro, um ódio de classe completamente justificável. A imprensa bate todo dia no governo dizendo que os impostos são altíssimos. São mesmo. E com esse governo os impostos começam a chegar nas classes baixas, porque antes só serviam para alimentar o ciclo da acumulação do capital nas mãos dos mais ricos. E isso continua acontecendo sim. Mas a mídia se esquece da altíssima taxa de LUCRO que a burguesia aufere neste país, muito maior que na Europa e mesmo nos EUA. QUEM DIVIDE, ENTÃO, O PAÍS?
A mídia pig e a direita neoliberal, representadas por SERRA, agora criticam o consumismo e usam o discurso verde. Querem a exclusividade da destruição do planeta. Não deixam de andar de jatos, gastar altas taxas de combustível em seus possantes, devastar a mata para ter móveis de mogno. etc. É só olhar a produção de lixo desta classe. Altíssima, claro. Mas os pobres devem parar de consumir porque assim poluem o planeta e matam baleias e pandas.
Além de tudo a burguesia é ingrata. O governo LULA, com as políticas sociais, aumento em muito o consumo das classes pobes, o que gerou a demanda que manteve o país longe da crise que abalou o centro do mundo. E a burguesia pode continuar a ir aos shows da Beyoncé, passear na Europa ou em destinos mais exóticos como a Ìndia para manter sua espiritualidade em alta.
Mas então o que irrita tanto essa burguesia?
O significado do sucesso de um governo comandado por um operário nordestino.
Se existe uma elite, ou seja, pessoas com maior acesso e direito a bens e cultura produzidos pela humanidade, ela precisa de legitimidade, desde sempre fundada na sua pretensa superioridade cultural e moral.
Lula e seu governo, obviamente, colocam essa superioridade em cheque.
É, não anexei meu facebook no blog, aihahia! Mas é: http://www.facebook.com/?ref=home#!/profile.php?id=768957759
Sou moradora deste mesmo bairro e me entristece muito atitudes como a dessa senhora, provavelmente a mesma que assina o abaixo-assinado para evitar que seja construída a estação de metrô na Avenida Angélica, com medo da invasão de camelôs e marginais (em outras palavras pobres) na porta de seus prédios. Pergunto a essas senhoras apenas duas coisas: suas auxiliares, babás, empregadas, motoristas etc. vêm trabalhar como? De táxi? Não dá para fechar os olhos para uma problema que alcança patamares muito maiores do que enfeiamento e empobrecimento de um bairro nobre, mas que sobrevive às custas da população de bairros longíquos nos supermercados, padarias, bancos… Segunda pergunta: quando vão para a Europa ou para Nova Iorque, essas mesma senhoras andam o tempo todo de taxi ou se valem de suas eficientes linhas de metrô? O desprezo pela problemática social em prol de seu próprio umbigo e o pensamento de que ninguém mais “tem direito a ter direito” ao livre-pensamento, à livre-expressão e a direitos iguais me deixa, realmente, muito triste. Aconselho uma boa leitura a essas senhoras: a nossa Constituição, onde em seu preceito maior diz que TODOS SOMOS IGUAIS – E DEVEM ASSIM SER RESPEITADOS.
claro, claro. Dilma não tem ficha como terrorista, não foi presa, o apedeuta adora universitários, sabe ler em grego, o mensalão não existiu e, naturalmente, o PT não atraiçoou suas bandeiras e propostas, celso daniel não foi morto (assim como 7 testemunhas), palocci não violou o sigilo bancário do caseiro, o caseiro só disse mentiras a respeito das reuniões, josé dirceu não foi o mentor do mensalão e o Estado, hoje, não está inteiramente contaminado pelos petralhas, os banqueiros não estão cada vez mais felizes com o lula, assim como os grandes tomadores de empréstimos do bndes e também pagamos impostos mínimos para termos um atendimento social a nivel do canadá ou melhor ainda, holanda. Não temos a promoção da viadagem ostensiva, não temos o estímulo ao crime, prendemos e mantemos presos todos os criminosos, não temos estímulo à segregação da sociedade, não foi assinado um tratado com os padrecos do vaticano estabelecendo (em breve) a “educação religiosa” nas escolas do Estado que deveria ser laico. Educação católica, óbvio, em detrimento dos milhares de umbandistas, espiritas, muçulmanos.. criamos TAMBÉM aí a segregação, assim como já se está fazendo com as amaldiçoadas quotas.
puxa.. as benesses que o apedeuta nos trouxe são realmente extraordinárias.
BTW, eu não nego: corri de policia durante a ditadura (era estudante) fui petista de carteirinha durante 25 anos (mais tempo de militancia do que vc de idade) e deixei de se-lo no discurso de posse do PRIMEIRO mandato do apedeuta. De lá pra cá, não voto mais, então não estou fazendo proselitismo para ninguém.
felizmente eu consigo pensar e não manter-me intoxicado com ideologia que, 50 anos atrás já não prestava pra nada.
Senhor irado, em nenhum momento eu disse que os governos do PT foram uma maravilha, que não houve escândalos, que a gente vive uma situação maravilhosa no Brasil. Aliás, você citou milhões de pontos que eu não comentei. Eu queria discutir algumas posturas anti-Dilma e a arrogância de quem estuda e acha que pessoas menos instruídas não podem opinar na política.
Vou só comentar alguns pontos do seu comentário, que embora traga críticas pertinentes ao PT, peca, na minha opinião, em alguns momentos:
1- Dilma foi presa sim. E se você lutou contra a ditadura também poderia ter sido. Minha mãe foi, tias e tios meus foram presos e torturados. Eles são terroristas, bandidos, têm mau caráter? Não. Eles se colocaram contra um regime autoritário e você, pelo que contou, deve saber bem disso.
2-Sim, eu tenho menos de 25 anos de idade. Isso também tira minha autonomia pra discutir política no blog? Kant defendeu no século XVIII o lema sapere aude – e olha que ele nunca seria ateu nem petista, mas parece que tá muito mais adiantado do que tanta gente que questiona essa autonomia dos outros.
3- Fazendo uso dessa minha audácia jovem, o que seria a promoção da viadagem ostensiva? E isso de ficar chamando o Lula (óbvio…) de apedeuta? Do alto dos meus 24 anos, devo te dizer que se falar nesses termos antes era aceitável, hoje dá até processo.
4- Sim, eu achei horrível quando estourou a notícia do Mensalão, eu não acho todos os quadros do PT maravilhosos, eu acho que boa parte dos militantes de esquerda se decepcionaram. E acho válida a crítica. O intuito do meu texto, no entanto, foi discutir algumas declarações dos eleitores do Serra e os preconceitos que nós todos e todas temos quando falamos das classes baixas. E mais, eu acho que esse período antes do segundo turno é bom pra debatermos quais os projetos que estão em curso nessa disputa Serra X Dilma. Tem gente que prefere não participar, falar que não acredita mais em nada. Entendo. Mas acho que isso não é deixar de sujar as mãos, olhar a história de fora. Basta ler Adorno pra entender que fazendo uma coisa ou outra, parece que estamos sempre nos rendendo à barbárie. E olha que ele nem conhecia os comentários anônimos nas discussões virtuais, hein?
parabens
bonito e muito honesto o texto.
amanha estara pregado no quarto de plantao dos hospitais que trabalho em bh.
mandei o link pra muita gente.
Senhor (des)excelentíssimo irado:
“não foi assinado um tratado com os padrecos do vaticano estabelecendo (em breve) a “educação religiosa” nas escolas do Estado que deveria ser laico. Educação católica, óbvio, em detrimento dos milhares de umbandistas, espiritas, muçulmanos..”
Quanto à isto, certamente o Sr. desconhece a autonomia dos Estados em relação à União para implementação do ensino religioso nas escolas, afinal terás um dia pisado numa escola da rede estadual de ensino do ESTADO DE SÃO PAULO?
Acreditando que a resposta seja negativa, aqui vai uma simples explicação: no Estado de São Paulo o oferecimento da disciplina de Ensino Religioso nos estabelecimentos de ensino público é facultativo, sendo a sua implementação acatada mediante deliberação da comunidade escolar. Além disso, na rede municipal não há o seu oferecimento, bem como na maiorias dos demais Estados que compõem a União.
Perguntemos agora: o fato de São Paulo ser um dos únicos Estados em que o Ensino Religioso ainda faz parte do plano curricular das turmas de 9º ano estará diretamente relacionado às “determinações” da União (que a princípio têm também seus próprios estabelecimentos de ensino vinculados) ou à gerência da Secretaria de (des)Educação do Estado do PSDB-São Paulo?
Ná
Filha da boa tradição crítica que vem nos lembrar que esclarecimento é muito diferente de erudição, sua reflexão esbanja aquela sensibilidade própria a um pensamento que se deixa ver em seu fazer, crente na humildade da construção e na dificuldade do objeto. Ousar pedir razões onde se impõem – e o termo aqui é exato – opiniões, é ousar colorir e matizar este preto-e-branco tendente ao monocromático. É exigir que se passe da reprodução do mecanismo à problematização dos mecanismos de produção. Atitude corajosa, sim. Mas perigosa. Afinal, se a moda pega, podemos até acabar caindo numa espécie de autonomia.
Estamos de olho em você!
Brilhante teu texto.
Ná, sou sua vizinha, nos encontramos no Gopala, adorei seu texto e compartilho das suas opiniões. Quando li o texto, imaginei que fosse você…e o Manoel confirmou. Parabéns e beijos.
Margareth
Margareth, tudo bem?
Poxa, que bom que gostou do texto! Te encontro pelo prédio.
Beijos!